Águas

Debruçou-se preguiçosa,
 
Entre as vigas da janela
 
Observando inquieta as proezas da vida
 
Da cozinha emanava um cheiro de canela
 
Que despretensiosamente à convida
 
A espiar o que havia na panela:
 
Canjica!
 
Mas a mãe já gritava: ''Atrevida!"
 
Esgueirou-se para o jardim
 
Fugitiva com suas asas de Querubim.
 
 
 
No emaranhado das verdes cores
 
Decidiu em seus nuances imergir
 
Ali no ofusco dos bastidores
 
Quis matar, quis afogar, quis ressurgir
 
Reverter, afogar
 
 Deixar os seus pudores
 
Sepultar os seus demônios e emergir
 
 Livre das amarras no calabouço da mente
 
 Que se criam erroneamente.
 
 
 
E foi serelepe em direção à praia
 
Brincando com o vento, a areia e com a água,
 
Com os olhos magnetizados com tudo que lhe atraia.
 
Como um rio que no mar deságua Julgando ser feliz, não fugindo da raia.
 
E sorridente até encher os olhos d'água
 
Corre para o seio do lar
 
Sobre tudo aquilo ainda a assimilar.
 
 
 
Assemelhou a vida com o grande mar
 
Por horas brando e outrora tempestuoso
 
Mas que em tudo deseja transformar
 
E converter o coração tumultuoso
 
E levá-lo há um novo entusiasmar
 
Um doce momento luxuoso
 
Que por mais piegas que o fosse
 
Que ao seu ascender tomaria posse.