Ensinando o amor

Nunca havia pensado que os meus textos poderiam mudar a vida de alguém. Até agora.
Quando eu era mais nova descobri que o meu primeiro amor não era uma pessoa, e sim um hobbie. LER. Mas, jamais poderia imaginar que desse amor nasceria outro. ESCREVER. Quando estou triste, eu escrevo. Quando eu estou feliz, eu também escrevo. Por que eu escrevo? Porque eu sinto.
Acho que para cada escritor há uma razão diferente. No meu caso, não sou escritora, apenas coloco meus sentimentos em palavras para que eu possa me entender. E talvez seja por isso que eu tenha ficado tão chocada quando um garoto me agradeceu por escrever.
“Estava na biblioteca escolar, quando ele apareceu.
- Você é a Hanna, não é?
- Sim, sou eu. Por quê?
Ele ignorou minha pergunta.
Sentou-se do meu lado, pegou o livro de poesia das minhas mãos e começou a folhea-lo.
- Eu leio seus textos.
Ah, isso é estranho. Não parece ser o tipo de garoto que gosta de ler, e muito menos o tipo que usa o intervalo para se enfiar na biblioteca. As aparências podem mesmo enganar?
- Hum, legal.
Peguei o livro de volta e o ignorei. Não gosto de falar sobre os meus textos.
Não me pergunte nada. Não me pergunte nada.
- É real, Hanna?
- O quê?
-Seus sentimentos?
- Ahã.
Merda. O que ele quer?
Concentrei-me no livro, que até esqueci que tinha um garoto que eu nem conheço me questionando sobre meus sentimentos.
- Eu sabia que encontraria você aqui, te reparo há algum tempo.
Oi?
- O quê???
- Nada. Só queria ver de perto.
- Ver o quê?
- Ver a garota que parece ter o amor nas mãos. Por quê não é feliz?
Quem é esse garoto, e o que ele sabe sobre mim?
- Quem disse que eu não sou feliz?
- Seus olhos.
Ah, que coisa! Ele tá achando que é quem? Surtei.
- Ah, claro, você consegue dizer o que eu sinto só de olhar em meus olhos? Se liga, por que agora eles estão te dizendo que eu não gosto de ser reparada e muito menos questionada sobre a minha vida.
Hunf!
- Me desculpa, não quis dizer isso...
- Mas disse!
- Hanna, eu só queria falar sobre os seus textos. Me desculpa, por favor. Há muito tempo quero conversar com você, mas já comecei mal. Vou te deixar em paz, me desculpa.
Droga. Eu e a minha grosseria exagerada.
- Tudo bem, desculpa por ser tão grossa. O que quer falar sobre os meus textos?
Ele abriu um sorriso meio bobo.
- Se os seus sentimentos são reais, então existe alguém, não é?
Ele já tinha essa pergunta na ponta da língua.
- Ahã.
- Que daora! O que ele diz sobre os seus textos? Vocês namoram, né?
Ele não diz nada. Por que ele não sabe.
- Sim, estamos juntos há sete meses.
Voltei a me concentrar no livro que tinha nas mãos, e ele me olhou com preocupação.
- Ele não sabe, não é? Por quê?
- Eu... hã... nunca mandei nenhum link para ele.
- Por quê não? Ele deveria saber como se sente, e como ele é amado. Qualquer garoto iria querer estar no lugar dele. Inclusive eu.
Ok, já tá na hora de parar. Essa conversa não está indo para um rumo legal.
A sirene tocou, indicando que o intervalo havia acabado. Me levantei para sair.
- Hanna, não estou flertando com você! Eu consigo ver que nenhum garoto tem a chance de ocupar o lugar do seu namorado. Pelo menos, não no seu coração.
- Tudo bem, eu preciso ir agora.
- Espero que um dia ele leia, e assim saberá como tem sorte. Você é incrível!
Ele pareceu desconfortável dizendo isso. Torcia os dedos com certa preocupação.
- Obrigada! É... eu nem sei seu nome.
- Arthur, eu me chamo Arthur.
- Foi um prazer, Arthur.
Nós nos encaminhamos para a porta. Antes de seguir para minha sala, ele segurou minhas mãos e me olhou com vergonha.
- Obrigada!
Me afastei um pouco.
- Por nada.
- Não, não estou agradecendo por hoje.
Por quê me agradeceria, então?
- Então, por quê?
Ele soltou minha mão e seguiu para o corredor. Antes de entrar em sua sala, virou-se para trás e sussurrou:
- Através dos seus textos, você me apresentou o amor.”
Obrigada, Arthur.
 

Hanna Martinelli.

"Há duas coisas que você precisa saber sobre mim: Sou colecionadora de sonhos e escrevo sobre tudo. Ás vezes, até sobre o nada."
 

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