Nostalgia e silêncio

 Meu bem, eu te vejo passar entre as vielas da minha memória, assim como os meus dedos insistiam em encaixar perfeitamente nas madeixas do teu cabelo liso. Naquele movimento que só os meus dedos finos faziam. Dedos que, como imã, eram atraídos a desenhar as tuas costas. Ah... as tuas costas. Deixei o mapa para outras saberem trilhar o caminho perfeito do teu arrepio. Ver seus poros aflorarem era uma visão gostosa. 
 Como era incrível poder ver você dormir. Dormia como anjo. Eu sempre soube que existiam anjos na terra. E você dormindo era a comprovação disso.
 
 Falei tanto de você e você tanto de mim, mas me esqueci de te perguntar se eu roncava. Se eu era chata. Boba. Idiota. Esqueci também aquele livro na sua casa. Esqueci de te dizer algumas palavras. Esqueci de te soltar um palavrão na cara. Esqueci você na gaveta. Talvez foi o que você fez com a nossa foto. Com a nossa história. 
 
 Você virou um momento que gosto de lembrar mas que não quero de volta. É isso. Uma coisa cheia de contrários. É, eu sei. A gente sempre foi assim. Você ligou. Eu nem vi. Desculpe. Foi uma decisão.Hoje, eu decido ser silêncio. Nostálgico.