NR

O pecado de escrever.

 

 Estava diante dessa folha do World em branco como se estivesse diante de um padre para me confessar. Nunca fiz isso. Me confessar para um padre. Mas já perdi a conta das vezes que publiquei o que chamam de pecados, para aliviar o anseio de uma alma que não cansa de dizer o que é, ou o que se está sendo.

 Confessar-me para o papel, me camuflar nas entrelinhas de tantos textos, de tantos dizeres que já se perderam no emaranhado de dias que já se seguiram me revelaram essa menina-mulher-escritora. Ora arrogante, prepotente, feminista e até mesmo não se assustem, machista. Ora, triste, carente, radiante, apaixonada e inundada de amor pelo próximo, por alguma paixão inusitada da minha vida, por meus amores-amigos, pelo meu trabalho e não tão menos importantes, por meus chocolates e doces.

 Diante da possibilidade de liberar para um texto tamanha emoção e a sensação de causar aquele confronto de ideias que dão nó em nossos cérebros, ou aquele gelo no coração que todos nós já sentimos ao menos uma vez na vida, um friozinho despretensioso na espinha e borboletas no estômago, ou aquele choque de ideias, aquela vontade de amor saudável, aquele sorriso com tom de gargalhada é meu salário pela coragem de dizer através de tantas letras, minha humilde opinião dessa coisa enfadonha, descontrolada, mas gostosa de se viver que é a vida.

Embora nossos dias tenham cruzes para serem carregadas, dilemas com religião e política para aturarmos, mudanças hormonais e estruturais, comportamentais e sociais, temos a possibilidade das linhas tênues da felicidade e da verdade para que haja alívio para nossos ombros e pés cansados. Embora estejamos tristes e sobrecarregados há uma reserva de momentos dos quais valerão a pena todos os percalços da existência. E de que dias você se recorda com esmero e brilho nos olhos? Dos dias que tomou aquela Coca-Cola gelada em um dia Palmense (rs)? Ou dos dias que seguram o seu mundo quando tudo que você desejou foi sumir?  Dos dias que a sua cama foi o seu único refúgio? Dos sabores da vitamina ao amanhecer do vovô ou do bolinho de bacalhau da vovó? Da chuva te molhando? Do seu primeiro beijo, e da sua primeira vez? E que convenhamos nem é tão legal assim como passam na televisão. (rs). Tantas memórias gostosas eu tenho para contar. Para o que guardar? Quer saber? Eu amo muito tudo isso!

Salve o Inventor da existência, o da escrita e o da Língua Portuguesa que vivem perdoando os meus grosseiros erros e o meu modo de enxergar beleza em cada viés dessa vidinha passageira mas tão gostosa de se viver! E se não está gostando dos seus textos que andas por aí a digitar, que tal recomeçar? Como diria a maior metamorfose ambulante que já viveu, Raul Seixas: tente outra vez!

NR